Se quando alguém começa a falar sobre público-alvo e games a primeira coisa que passa pela sua cabeça são meninos adolescentes comendo salgadinhos no sofá, você está enganado, meu caro. Os consumidores de games já são um público diversificado há anos, mas em 2014 as coisas mudaram de vez: as mulheres agora são maioria entre os jogadores.
É isso que diz uma pesquisa do IAB: 52% dos gamers agora são mulheres. Mesmo assim, a representatividade delas nos jogos ainda é baixa e nos últimos tempos foi motivo de grandes discussões, como foi o caso da Ubisoft, que disse ter retirado personagens femininas do multiplayer do Assassin’s Creed para “evitar trabalho adicional”.
Mas como foi que, de repente, as mulheres ganharam uma parcela tão grande de acordo com os dados do mercado de games? Que jogos elas jogam? Por que é importante representar essa nova geração de gamers que promete transformar a forma como a indústria produz jogos? Por que eu não soube disso antes? Eu perdi tanto tempo da minha vida jogando League of Legends que não vi nada disso acontecer?
Como as mulheres viraram maioria no mercado de games
Ao contrário da época em que todos os jogos eram criados para o público masculino - e em grande parte adolescentes - o mundo dos games mudou drasticamente a partir de um acontecimento simples: o uso de smartphones. O sucesso de um dispositivo que está sempre no bolso de todo mundo, e permite uma boa dose de interatividade, fez com que game designers buscassem soluções inovadoras para criar jogos mais casuais e tentar lucrar um pouco com esse novo mercado.
Isso chamou muitos gamers que antes não jogavam simplesmente por não conseguir gastar milhares de reais em consoles caríssimos - ou montando um PC que poderia custar ainda mais - e atraiu um grande público de jogadores casuais. Mas isso é apenas um motivo para o aumento da presença das mulheres no mundo dos games, a grande razão é que, na verdade, os jogos desenvolvidos para essas plataformas conversam melhor com as mulheres do que os “clássicos" que raramente as representam.
Mas como as mulheres não são representadas?
Antes de mais nada, tire um segundo para pensar em quantas heroínas você conhece em grandes franquias. Conseguiu? Agora exclua a Lara Croft e toda a série Tomb Raider. Quantas sobraram? Provavelmente só a Jill de Resident Evil, Samus de Metroid, e as heroínas protagonistas das maiores franquias da indústria acabam por aí.
Agora faça o mesmo para os homens. Quantos são? Do Mario até o Snake de Metal Gear - que aliás gerou uma grande discussão por conta da personagem Quiet, que vai completamente na contramão da representação feminina - os exemplos são inúmeros. Em games voltados para o público hardcore, a presença das mulheres se resume a personagens secundárias que são criadas com estereótipos físicos ultrapassados e degradantes.
A representação das mulheres em games é essencial para que elas possam se identificar com as personagens que deveriam refletir o que elas são na realidade: tão importantes, inteligentes, capazes, heroicas, e aptas a salvar o mundo contra uma ameaça nuclear alienígena quanto os homens. Isso já foi notado na indústria da animação, que lentamente vai explorando grandes personagens femininas, como a Pixar fez em Divertidamente e Valente.
Como eu não soube disso antes?
Provavelmente porque você não prestou atenção, assim como boa parte da indústria de games. Mas é exatamente aí que os produtores independentes ganham. Com esse nicho identificado, investir em um projeto de game desenvolvido para o público feminino além de inovador seria um plano lucrativo.
Os números de 2014 só consolidaram a maioria a partir de um aumento pequeno em comparação a 2011, quando as mulheres já representavam 49% dos jogadores. Mesmo assim, episódios tristes como o Gamergate ainda são vistos, e a participação das mulheres no desenvolvimento de jogos ainda é muito pequena. Chegou a hora do mercado de games prestar atenção nos números - além de todo um contexto social - e começar a representar seu novo público majoritário.
Você está pronto para criar games para esse novo público?
